Ler para ser: o desafio da alfabetização real; leia a coluna do tabelião André de Paiva Toledo

Espaços de leitura bem estruturados oferecem aos leitores a oportunidade de explorar diferentes perspectivas, desenvolver o pensamento crítico e ampliar seu repertório cultural.
- Foto: Designi | Licenciada


No dia 5 de maio de 2025, dados alarmantes vieram à tona: três em cada dez brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais. Isso significa que mais de 30% da população não consegue compreender frases simples ou identificar informações básicas como preços e números de telefone. Embora saibam decodificar palavras, não conseguem utilizá-las para exercer plenamente sua cidadania. Essa limitação tem nome: analfabetismo funcional.

O cenário torna-se ainda mais preocupante quando se observa o crescimento desse tipo de analfabetismo entre os jovens. Em apenas cinco anos, houve um aumento de 2% na taxa de analfabetismo funcional nessa faixa etária. A juventude, que deveria ser o motor da transformação social e econômica do país, encontra-se em grande parte despreparada para lidar com as exigências básicas da vida adulta, do mundo do trabalho e da participação democrática.

Não dominar a leitura e a escrita não é apenas um obstáculo educacional, é uma barreira social grave. Pessoas com baixo nível de alfabetização enfrentam dificuldades para conseguir emprego, interpretar instruções simples, acessar serviços de saúde e exercer seus direitos civis. Um trabalhador que não compreende um contrato de trabalho ou uma mãe que não consegue interpretar a bula de um remédio para o filho vivem situações de risco e vulnerabilidade que poderiam ser evitadas com a alfabetização plena.

Reverter esse quadro exige mais do que boas intenções. É preciso garantir, de forma contínua e eficaz, o acesso à aprendizagem de qualidade. A leitura não deve ser tratada como um conteúdo isolado, mas como uma prática social, que se desenvolve e se aprimora ao longo da vida. As políticas públicas precisam ganhar mais ritmo e amplitude, envolvendo todos os níveis de governo, sem se renunciar à iniciativa privada.

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Para as crianças e adolescentes, o desafio é ainda mais urgente. Eles não devem apenas aprender o beabá, mas devem ser acompanhadas de perto por profissionais capacitados, capazes de estimular e guiar a leitura de maneira significativa. Ler palavras soltas não basta. É preciso enxergar o mundo através da sequência das palavras a partir da interpretação de contextos e da construção de sentido. A presença de bibliotecas, clubes de leitura, professores mediadores e ambientes ricos em leitura é fundamental para que o ato de ler vá além da decodificação e se torne instrumento de libertação.

Espaços de leitura bem estruturados oferecem aos leitores a oportunidade de explorar diferentes perspectivas, desenvolver o pensamento crítico e ampliar seu repertório cultural. Quando acompanhados por mediadores que sabem conduzir o processo de leitura com sensibilidade e intencionalidade, leitores — especialmente crianças e jovens — descobrem que a leitura pode ser um caminho para a autonomia intelectual, para o fortalecimento da identidade e para o exercício pleno da cidadania. Nesse contexto, a leitura deixa de ser uma obrigação escolar para se tornar um ato de liberdade.

O que podemos fazer, cada um no seu cotidiano, para garantir que os conterrâneos tenham condições de serem verdadeiramente cidadãos a partir do domínio da leitura? Responder a essa pergunta é urgente. Mas agir, mais ainda.

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